sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Letras Japonesas


Ele comentava sobre a cama com lençol florido.
Ansiava em dizer sobre as letras japonesas que não combinariam com as flores, mas desejava palavras como amor e fé em seu travesseiro quando fosse morar com ela.
Dizia sobre os planos no trabalho, sobre o chefe que cuidava bem das folhas dos contratos.
Olhava as curvas que formavam os olhos de sua moça, cada pêlo de seu cílio e o cheiro que sentia quando ela cruzava o seu caminho. Os cabelos de sua moça voavam pela janela e sua visão parava pensando: um dia acordou ao seu lado e informava sobre a escuridão que teve sua alma... pensava sobre.. as músicas que ela cantava enquanto tentava ler um livro de difícil compreensão... imaginava a cor que a moça ficou enquanto dançava ao seu lado após ter conseguido tirar 10 em uma prova de psicanálise.
Ela somente enrolava os cabelos no dedo e prestava atenção na gota de suor que rolava no pescoço de uma senhora de idade sentada a sua frente. Lia calmamente os lábios de um casal que estava em pé, imaginava um som que poderia sair do dedo de um garoto sentado na escada do ônibus.
Ela sentia o calor que abraçava o coletivo e orava para chegar logo em sua casa, tomar o seu banho. Fazia tudo, menos, prestar atenção nas letras japonesas que ele sonhava em seu travesseiro.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Casa no bairro


Guardava com ela pensamentos
Pensamentos em forma de palavras que poderiam abrir portas, fazer voar suspiros e acelerar corações
Ou muito bem podiam fechar um processo e tornar alguém um mestre para uma vida que continuaria
Não arriscava.
Não posso dizer que chocava estes pensamentos, porque eles jamais viriam a bicar o chão; fazer barulho no mundo.
Era isso: os pensamentos ficavam presos em calabouços negros, ora pensava que era quente e cheio de flores, mas não! Eles ficavam armazenados em lugares sem vida, sem sol, crônicos e endiabrados, porque vira e mexe a perseguiam e pré-ocupavam suas noites e manhãs.
Era medo de quê isso???
Medo de perder o que tinha feito? Medo de perder esta felicidade estranha, introvertida e limitada.
Visitava os pensamentos às vezes. Montava sonhos, curtos sonhos; afinal não tinha energia vital para dar continuidade... não arriscava, o quê?
Da onde ela pensou que a vida tinha sentido no esconderijo?
E os desenhos devem ser mostrados, a opinião deve ser dita, o não deve ser internalizado.
Existe vida quando se nega, quando se pensa ao contrário, quando não se quer.
Estava prestes a explodir o castelo solitário e jamais visto.
Estava prestes a morar em uma casa em um bairro qualquer na zona norte de uma metrópole.
Já começara a jogar os milhos no chão... para que um dia achasse caminho de volta para sua casa no bairro, se este ficasse irreconhecível.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mão de ferro



Não importa o que tinha vivido antes;
Pensamentos, sensações, prazeres, beijos, abraços e relaxamento.
É como se o amor não tivesse uma base, é como se o amor fosse despencar e a qualquer momento derrubar tudo o que foi vivido no chão.
Achava injusto pensar desta forma e rodeava pensamentos desconexos para tentar achar uma saída mais confortável, apaziguar o que sentia.
Uma angustia tomou conta do seu peito, e simplesmente iniciou um outro pensamento, para fugir do que a sua realidade apresentara.

Se não sentasse naquele banco pela manhã, o dia inteiro seria destruído
Destruído como se destrói coisas boas em fração de um instante com um pensamento cortante e possuído
Se não sentasse e dobrasse suas pernas como deveria, não agüentaria
Todos os planos voariam pela janela em papeis escritos
Letra por letra seriam re-lidos de longe quase perdidos na percepção de um relaxamento
Quando cansou de abotoar e desabotoar os olhos
Simplesmente fechou os olhos ao seu lado
Esqueceu da mão de ferro que a apunhalava
Esqueceu das cordas que faziam seu corpo andar como se fosse naqueles dias
Onde no mais profundo sonho não se perdoa
Onde na mais bela fantasia o medo se mascara
E não perdoa o que poderia ser visto como liberdade
Liberdade que a fez escolher o que foste escolhido, vivido, mastigado e jamais cuspido
Se desgasta para encontrar uma hermenêutica correta e cegamente busca o perdão onde não há perdão
Há memória e re-significado
Seus pensamentos passeiam e não acham o retorno para casa

Uma luz acendeu e a fez pensar na Mão que não foi de Ferro
Foi de flor, de pêssego, de riso de criança, de som das águas que descem pedras lisas
A mão foi embora e permitiu que não sonhasse sobre a máscara que ainda não descobriu a face do dono.
Fez com que tivesse possibilidade em compreender que nada será como é
Nada será no padrão de seus loucos pensamentos, da previsibilidade
A condição será desfeita
E o que não se sabe ganhará aconchego.