quarta-feira, 16 de abril de 2025

Trauma


 Mesmo face a desgraça máxima

Colocou-se a disposição para olhar o que poderia ser dilacerante

Com a notícia, pôde apenas acolher e engolir

Era subserviente a dor do outro

Gestava e perdia sua mãe

O feminino gigante bateu em sua porta

Guardava o segredo, sangrava e doía o corpo novo

Sentiu-se feia, rejeitada e inadaptável

Tentou ser o que não é para segurar o que não sabe

Mas, precisava seguir

Perdoar é concordar com o coração, ela pensou. 

Esqueceu o que fora perdoar

De qualquer forma, só decorou o que poderia ser e não foi

Em sua alma florescia flores que pesavam suas costas

A cólera passeava em seus olhos, braços, dedos e pensamentos

Enrijecia com a dor e o medo

Não queria mais cuidar

Sabia que era sofrido

Planejou em como levar e olhar 

Era difícil 

Alguém puxou e mostrou

Sem estar preparada, sem ser em seu tempo

Através do choro pode ver e sentir o quanto a mancha escura ocupava sua alma

Pisava em seu coração

Porém, sabia apenas acolher, esconder, não expor

Não era essa a via de auto cuidado

De longe, enquanto protegia a vergonha do outro, se via

Estava com medo, descontrolava a chorar

Pequena, sem mãe, sozinha

Um choro ressentido de três anos





sábado, 3 de outubro de 2020

Carta de despedida



A prontidão e urgência eram primitivas.
Eu deveria ir logo até você!
A manhã poderia trazer vida...
Mas o instante estava lentificado pela angústia... 
Angustia que antecipava os dias tristes.
Cada passo o desespero desenhava a possibilidade de perder você.
Um choro expansivo e sem vergonha. Ecoava na cidade. 
Ecoava no Centro e no Bairro.
Um choro sem medida, que esvaziava e se despedia. 
Choro de desespero; não ter o que fazer para arrumar tudo.

Os minutos não passavam. 
Qualquer coisa que eu ocupasse em fazer, o tempo não significava. 
Eu não personificava o tempo.
Estava parada em um cômodo cinza, sem tempo, sem conforto
Sem amparo.
Apertar seu pai era o único amparo. Muito forte... 
Pedindo asilo no corpo quente... 
Esconder-me talvez da realidade.. que doía.
Queria que tudo fosse embora! Que fosse um pesadelo!
Uma angústia dentro do peito, impossível de ser removida... 
Até que você estivesse bem.
Mas isso não aconteceu. 
Um final não esperado para minha Princesa.

Eu sonhei que você estava bem. 
Não foi uma premonição e sim um conforto para minha alma. 
Um conforto, um respiro, um abraço, um soro para o corpo cansado.
Um colo para meu coração aguentar o futuro.
Perder você é fechar os olhos e não ter mais um lugar de descanso.. 
Em meio ao caos.
Perder você é como não ter uma conexão com a casa grande. 
Com todos.
Minha memória fofa, meu abraço felpudo. 

Minha filha.... 

O tempo parava em seu abraço.
Te levei para o fim ao tentar me desculpar. 
Retomando a confiança, buscando colo e perdão.
Seus olhos mel me encaravam com doçura.
Movimento, muito amor e coragem.

Estou tentando de tudo para acalmar meu coração
Quero ouvir você ai do outro lado.... 
Ao mesmo tempo, evito a amada solidão de ontem.... 
Encarar a dor da sua perda dói.
Me debato em meio a imensidão do mar.
Talvez ainda não chegou o dia para tanto...
Minha menina.
Ocupo meus pensamentos com conteúdos doloridos
Conteúdos que atravessam minha alma 
Desaba meu coração.. minhas lágrimas..
Inapetência, anedonia... 
Calma que não vem!  Não consigo te ouvir assim..
Meus livros abandonados, ideias encostadas, pessoas esperando. 

Eu em pedaços. Respirando fundo para não chorar. 
Respirando fundo para tentar perceber. Te ouvir!!
Quando a noite cai, eu derramo.

Então, ancorada lá em cima....
Permito mergulhar na imensidão do mar...
Não sentir a respiração, o pé quase no fundo... 
Sentir meu corpo mergulhar, devagar..  afundar... de olhos fechados... 
Movimentando os braços e pernas... em um azul claro... 
Com o reflexo do sol.
Sentir o silêncio do fundo do mar, marejar os olhos
Inchá-los de falta de sentido e dor. 
Buraco na alma, choro inacabável. Esgotável, grave do piano. 
Respiro fundo.
E assim volto, através da corda que me ancora em terra.

Consigo de forma desesperada, como se buscasse um tripé... apoiar
Apoiar o meu coração e minha alma em alguns pensamentos verdadeiros.
Na quarta-feira o Divã  esteve vazio quando você se foi.
Houve espaço apenas para que eu encontrasse a história. 
A nossa história. 
E lançasse mão do fim que maltratava meu coração:

Você veio e trouxe o sentir que estava desencorajado. 
Você trouxe a brincadeira, a juventude, a vida, a esperança, a mudança.
Seu papel era de sustentação para uma casa nova que se construía.
Tínhamos perdido o abrigo.. de longa data... meu amor.
Você foi além.. Ajudou o patriarca a não desabar. Ajudou a todos.. 
Trouxe o desaparecido, a turma, a amizade. 
O que não estava bem pôde aparecer.
Me escolheu.
Fez com que eu interrompesse meu sono
Interrompesse meu descanso de produção e fosse para o cuidado.
Buscar você de madrugada para dormir comigo era um sonho novo.
Um pirulito doce, um caminho florido. 
Foi possível deslocar do antigo através de você, filha.

Na construção dessa nova casa
Estava você, acompanhando tudo. 
Em cima do seu castelo. 
Olhando tudo.... iluminando o caminho que se fazia.

Correndo contra o tempo e o sofrimento, me escoro em sua imagem... 
Seu pescoço caindo para trás, sentindo o sol... 
Ancorada na bolsa. 
Seus olhos cor de mel se despediam. 
Em meio a uma avenida tão movimentada, você estava em paz. 
Calma e segura em meus braços. 
Sentindo. 
Apoiada docemente e olhando tudo pela última vez.
Fico feliz em poder ter sido seu veículo de despedida deste mundo.

Quase não consigo terminar a escrita,
Tudo remexido, novo e desconhecido.
Fantasio que poderia trazer alguma força para você naquela madrugada.
Quando na verdade ... você que continuaria trazendo para mim.
Desculpe. Você já cumpriu.. se vai..

Sem lógica tentava pensar que você ressurgiria.
Um erro, um milagre. Uma nova possibilidade
Uma lágrima que a reanimaria igual na fantasia.
Negação.
Você continuava quente em nossa despedida. 
Você estava cheirosa e linda. 
Realmente, (suspiro) uma princesa!

Vá em paz meu amor.
Queria que acompanhasse o nascimento e crescimento dessa vida 
Vida que tento simbolizar para nascer.
Mas, sei que está aqui. Sinto uma luz, um sol, você em mim.

Existe algo que sozinha terei que encontrar. Sozinha.
Mas o caminho você deixou.
Você já finalizou sua senda por aqui.
A dor ainda não me faz acalmar. ... 
Vou esperar. 
Você lutou para ter o que eu tenho. Eu entendi. 
É bom mesmo.
Muito amor. Carinho. Segurança.
Respirando fundo...

domingo, 28 de dezembro de 2014

Juliana


Livree, sem marcas! Aperta a fronha com a cabeça erguida, senta na cama e sinta o coração te avisar.. te acordar. Te fazer chorar.

Saiu da loja subindo a rua gastando tudo o que ganhou suado.
Foi onde sempre sonhou.. ela sempre quis entrar naquela loja. De óculos escuros nem se quisesse a luz a impediria.
Ju. Desce pinga, cerveja, mal estar e qualquer falta de controle. Liv. Que poderia ser assim? Talvez não molhado, mas sim sem limite. E ser bom!
Ju. Pegue minhas mãos e me leve com vc.
Jogue tudo para o ar, regras, pensamentos, calcas, cabelo preso. Leva estrada que doeu, leva julgamento que matou, leva aquelas correntes que estiveram em seus pés. Leve os dias em que Liv ficou sentada na cama durante a madrugada, os desenhos que ela não pintou.. Aquele com o contorno grosso. Aquele trabalho quando ficou paralisada com medo.. ouvindo tocar e tocar o telefone. Leva o medo do desconhecido, do pânico que era azia do nervoso em que Liv vivia.
Leve o desequilíbrio que a seguia ate a faculdade. Leve o choro no colo da gatinha, tão pequena que abarcou a maior dor de Liv, oh Ju.
Não esqueça as rejeições no orelhão perto da padaria do guardião que a abandonou. Abandonou seu sorriso torto, a falta de dinheiro do pai, abandonou as coincidências das placas na rua, o corpo que valia.. o amor que jamais existira. Leve o rosto sem maquiagem, a sensação de tremer.
Mas, Ju. Só peco então que a deixe. Deixe que Liv encontre o equilíbrio para seguir ate a faculdade. Deixe que Liv encontre as cores para um novo rosto.
Deixe que a angústia aponte durante a noite um novo caminho, que a solidão demonstre que o negocio é todo de Liv... de dentro dela.
Deixe a lembrança de um pequeno grande abraço da gatinha, um dos mais lindos encontros de Liv. Deixe seu novo guardião ali com ela, ele parece ter encontrado abrigo e entendido do tanto carinho. Deixe também esse amor, amor verdadeiro que é todo dela!
Deixe as coisas novas, a segurança, o respirar, o gosto da comida. Os olhos abertos e cuidado da vida. Deixa a sua historia que se deu.
E mais do que tudo Ju, continue significando o início para mudança que se fez.. a mudança em que se deu.
Enjoy!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Labirinto


Para melhor.
O labirinto se torna claro, as paredes têm seus espelhos quebrados
Finalmente se vê uma saída, nuvens, sol.
E tudo vai se transformando
Ela é outra coisa.
Estômago, fome, saudade, nada.
Pode ser flor, algo bom!
Nem é mais o cigarro.
Pode ser material: mesada à amada, saudade do amado, os dias que não vieram.
Hoje pode ser cores novas, saudade, saúde.
E eu fico feliz em saber que pode ser outra coisa. QUALQUER OUTRA COISA!
E muito cansada após longa caminhada, algo vai se desfazendo para o novo.
E vejo a saída do labirinto.
Finalmente, ela se viu como uma cobra
Discretamente tenta se largar logo das peles que a machucavam durante tantos dias
Mas, olhava e entendia que de alguma forma esse foi o único modo de tentar sair do labirinto naquela época...
Depois viu que na verdade ela não tinha saido
Voltou, e pisou no caminho de espinhos para se resgatar.. havia se esquecido.. ali.
Não estava no chão, mas estava perdida.
Época frágil, de escolhas bambas.. longe de si.
Só achou a saída porque conheceu sua passagem até ali.
Só encontrou a saída porque voltou para se encontrar no meio de tanta bagunça, tantos caminhos diferentes
Eram várias mãos com lanternas iluminando um caminho escuro na época..
Passagem..
Voltou para se resgatar
Uma das mãos vinha de um lugar cheiroso... que sente saudade e traz a base para novos pensamentos.
Aos poucos, com um tempo sem relógio, lembra de algumas passagens..
Faz sentir que tem uma história.
Sente-se de repente.. assim.. localizada.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Mão de Flor - a caminho -

Ela não sentou no banco naquela manhã.
Seus sonhos não foram destruídos 
Não se preocupou com o que ainda não acontecera.
Aos tambores, abriu o armário para a mulher que não agüentava mais o que se repetia 
Abraçou o diferente, abraçou o que não se pôde controlar 
Por vezes era agarrada por estranhas sensações que talvez nunca vai esquecer 
Mas, ao olhar para os lados e ver suas escolhas
Percebia que aquilo era o agora. O que realmente importava ; os frutos, a soma. 
E fez isso somente com o que se é, com o que se quer 
No caminho se dava conta de perdas, suspirava e continuava 
Era difícil perder. Cambaleava e tentava achar a saída a cada perda 
Recolhia outros pedaços que encontrava no caminho 
Depois se sentia segura novamente.
Ás vezes queria ter uma varinha mágica 
Pensava com frequência nesta possibilidade
Mas no fundo ficava feliz em poder saber que uma oração poderia ser a cura do que se dói. 
O mundo tem um tempo diferente que também dói. 
Aos poucos enxergava que o melhor seria passar o tempo rindo, acordando cedo, dançando, beijando, não controlando. 
Apenas sendo ao que se pedia e fazia parte de suas escolhas. 
Aos poucos percebia que o tempo passava rápido porque ela não sabia viver o tempo 
Não o entendia, não o sentia... não o queria. 
Compreende, sente e o queira. O tempo aí não dói. 
Aos poucos vai aprendendo a acolher o que se sente 
Até mesmo a felicidade, que antes a tirava do eixo 
Agora pede-se palma quando se está contente. 
A mão de ferro está tão longe... 
As vezes tenta existir, em um pensamento ou em algum contexto. 
Mas, ela vem sendo mais de flor, de pêssego.. de águas em pedras lisas. 
Mesmo sabendo que existe muito para mudar...
Algo parece mais leve, mesmo EU resistindo em encontrar.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bem Vinda ao Mundo



Sentia as coisas mais do que nunca
De casa nova, nada mais despencava
O primitivo não estava mais em seu lugar de descanso
Sentia falta do espaço que chorava, ria e admirava novos pensamentos, descobertas e alívio
Sentia falta do espaço onde Ela ria do que doía, do que era estranho
De seus olhos caiam lágrimas de saudade
Oh, minha amiga da vida, obrigada por acender o que estava escuro.

A cada passo tenta ser forte e ir sozinha
Através da escrita, descobre que tem um baú de idéias e pensamentos bons para seguir
Ás vezes esquece que tem e o baú entala em sua garganta
Ele já existe, ele foi construído.
E sabe de si mesmo, sabe de sua história
Ás vezes é visitada por uma angústia que a faz querer ir embora
Ir embora e deixar a falta de atenção, o tédio, os laços que vão se tornando maiores
Mas o medo fica menor, quando descobre que é feliz por ter se lançado e visto que sem sonhos jamais poderia ter o grande aconchego que tem hoje
Escolher o que se tem será maior do que qualquer perda
Remexe pensamentos e lembra que ´´foi possível cantar enquanto estava nervosa´´.
Olha calmamente o sol, a rua, as pessoas e o sentir
Sente quando o vento a abraça e penteia os pêlos de seu rosto

Não pode deixar a colheita no meio do verão
O que será de si se não souber regar as plantas quando não houver chuva?
O futuro vem com flores cheirosas
Mas, o caminho é tão doloroso ás vezes, que não derruba lágrimas!
Ás vezes esquece que é uma mulher de desejos
E que está aprendendo a escolher, a perder
Há um tempo experimenta algo valioso
Antes não tinha sido tão valorizada, tão cuidada por um amor
Antes não tinha se valorizado, se cuidado tanto pelo seu próprio amor
O amor coloca em sua frente escolhas, perdas, e quem ela realmente é
E isso avassala o seu mundo, despenteia os seus cabelos, fecha a porta de um castelo solitário
Em que viveu durante anos uma dor que a fez crescer como um Baobá
Sadia, doente, ansiosa, alegre.. .ela vai se mostrando
Não pensa mais que está em uma jaula
Solta as correntes dos pés, finalmente observa que não há mais ingenuidade como antes
Pensa que está na vida, e que foi escolhida por algo que tem
Não insiste mais em saber do que não se sabe
Pára quieta e não existem mais ondas para destruir o seu castelo de areia
Que já visualiza e tem força: ´´se a onda derrubar, eu molho as mãos e construo um novo´´.

E novamente sente falta de quem falou para ela seguir
Ela ensinou a molhar a minha mão para construir novos castelos se estes forem dissolvidos pelo água do mar incontrolável.
E tenta segurar o navio com pensamentos bons, não só pensamentos, como sentimentos
E outros não tão bons que fazem parte da vida
Fui bem vinda por Quem sinto saudades
Bem vinda ao mundo, Lilian.

sábado, 16 de julho de 2011

Básico - Primeiro Passo


Durante muito tempo deixei de expressar o que eu sentia
Ditados, frases prontas, pressupostos, coisas coletivas que estavam dentro de mim
Faziam com que eu me afastasse do meu singular
Afastavam de mim o que poderia ser vivido
Colocavam minhas mãos longe do que poderia ser feito
Era sempre uma condição de dor, de algo que não poderia ser para minha vida
Cheia de vontade, fui tateando e apenas sentindo o cheiro do que eu não poderia ter
O medo não perdia o condicionamento, tudo estava fechado
Não me lançar era a grande questão
Não me lancei por coisas prontas, nem ao menos olhava para a minha vontade, para o meu desejo, para a minha condição
Qual o problema de eu gostar e querer?
Isso vem de mim, é o meu querer do momento
Obviamente vou aprendendo que existem coisas que não dependem somente de mim
Mas, se eu não tentar o que vem de mim
Nada poderá ser feito.
Que se dê o primeiro passo, finalmente!